A sociedade britânica tem uma tradição invejável de liberdade de expressão. Desde o Bill of Rights de 1689 o direito de opinião e de comentário é protegido por lei. Isso é equilibrado por leis anti-difamação que garantem o direito das pessoas e instituições de não terem suas reputações injustamente prejudicadas por declarações falsas ou difamatórias. Este equilíbrio é bastante delicado na mídia tradicional, mas com o advento da internet suas consequências se amplificam radicalmente. A natureza global do meio significa que qualquer coisa publicada em qualquer lugar pode muito facilmente levar a uma indenização milionária nos termos do direito britânico.
Simon Singh é um escritor premiado no Reino Unido. Autor de livros sobre divulgação da ciência como como Fermat´s Enigma, The Big Bang e mais recentemente Trick or Treatment, sobre medicina alternativa junto com Edzard Ernst, o conhecido Professor de Medicina Complementar e Alternativa da Universidade de Exeter.
Todo ano a Associação Quiroprática Britânica (BCA) realiza a Semana da Consciência Quiroprática com o objetivo de chamar a atenção do público para a quiropraxia.
Em 19 de abril de 2008 Singh aproveitou a semana para publicar no jornal The Guardian um artigo em que chamava a atenção para outro aspecto da quiropraxia: seus riscos e a ausência de uma base científica para sua suposta eficácia e seu mecanismo de ação. No artigo ele menciona casos em que tratamentos quiropráticos em lugar de levarem a cura causaram danos e mesmo a morte de pacientes. Ele qualifica a quiropraxia como bogus treatment, ou tratamento falso.
O uso da palavra bogus teve uma consequência grave para Singh. A BCA considerou isso difamação e o processou com base nas leis anti-difamação britânicas. O caso custou até agora pelo menos 100 mil libras a Singh. O juiz do caso determinou que ele precisa provar que os quiropraxistas "têm consciência de que seu tratamento é inútil" e "desonestamente o apresentam a um público confiante e em alguns aspectos vulnerável".
Essa determinação, que poderia parecer razoável num contexto realmente difamatório, não poderia se aplicar a um debate científico. Se a BCA tivesse realmente argumento científicos contra o Sr. Singh em lugar de um processo produziria um artigo que deveria ser publicado em uma revista científica respeitada, após o processo usual de revisão pelos pares, que mesmo não sendo perfeito e sujeito a erros é a forma pela qual os cientistas debatem e fazem suas idéias avançar. Mas como é impossível provar cientificamente a eficácia e a segurança da quiropraxia, o caminho dos tribunais baseado em leis de alguns séculos atrás foi a única alternativa.
Como consequência do processo o Guardian retirou o artigo de seu site. No entanto, várias cópias podem ser encontradas na rede. Ele está reproduzido na formatação original aqui. A organização Sense About Science colocou o caso em destaque e organizou um abaixo-assinado eletrônico em apoio a Singh que pode ser assinado aqui. Na última contagem tinha 12 mil assinaturas, incluindo a minha. O abaixo-assinado pede uma revisão urgente dos efeitos das leis anti-difamação sobre o debate científico, forçando pessoas a não expressarem sua opinião!.
Singh apelou da sentença. Devido à atenção que o assunto recebeu na mídia, a BCA publicou recentemente uma atualização em que apresenta as evidências "científicas" para a prática de quiropraxia. Mais uma vez pretendem enganar os incautos. Dos 29 artigos apresentados, 25 foram publicados em periódicos de medicina alternativa como o Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, o Journal of Complementary and Alternative Medicine e o Journal of the American Ostheopatic Association. Todos com critérios editoriais no mínimo duvidosos em relação ao rigor científico e metodológico de suas publicações. Mas nem tudo está perdido! A referência 16 é para uma respeitável Cochrane Review. Ela trata do uso de tratamentos de medicina complementar para enurese, o xixi na cama das crianças. Qual a conclusão? "Há fraca evidência para apoiar o uso de hipnose, psicoterapia, acupuntura e quiropraxia, mas ela [a evidência] foi obtida em cada caso em estudos únicos e pequenos, alguns com rigor metodológico duvidoso. Estudos robustos randomisados em que eficácia, relação custo/benefício e efeitos adversos sejam cuidadosamente monitorados são necessários."
Os grifos são meus. A frase final é a que mais se encontra em revisões sobre medicina complementar e alternativa. Até quando vamos continuar exigindo mais estudos antes de concluir que todas as evidências mostram que essas terapias carecem de efeito mensurável além do placebo?
A única referência mais respeitável da lista afirma justamente que a quiropraxia não tem efeito nenhum sobre a enurese.
Os praticantes de medicinas complementares e alternativas deveriam um dia entender que idéias como as do Sr. Palmer, o padeiro de Davenport, Iowa que criou a quiropraxia, por mais sedutoras que sejam, não bastam para mudar os fatos da natureza. Nem processos em tribunais.
Ciência se faz com observação, rigor e método. Nunca com práticas bogus!
Comentários
Eu concordo que o debate científico deve ser na academia e nas publicações com revisões por pares, mas em casos de danos físicos provocados por tratamentos, ela deve ser processada sim. Deve-se incentivar também as reclamações em órgãos de defesa do consumidor por propaganda enganosa.
http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1197757-5606,00.html
"Quiropaxia por Quiropraxistas"
Segundo o Bureau of Labour Stastistics do United States Department of Labour (o Ministério do Trabalho americano) havia nos Estado Unidos 53 mil quiropraxistas registrados em 2006 com uma projeção de 60 mil em 2016. Em comparação havia em 2006 633 mil médicos, 66 mil assistentes de médicos, 62 mil veterinários, 2,5 milhões de enfermeiros, 749 mil assistentes de enfermagem. Eu parei por aí, mas talvez haja outras profissões maiores na área de saúde. Quiropraxia é no máximo a sexta maior profissão da área de saúde nos EUA. Eu não tenho facilmente dados confiáveis do resto do mundo, mas dado que o lugar em que mais se pratica quiropraxia são os Estados Unidos, é provável que a quiropraxia não seja a terceira maior profissão da área de saúde no mundo.
Note que 2 das suas afirmações estãao certamente erradas, uma provavelmente errada. Bastava ser um pouco cético e não acreditar em tudo o que contam para você, buscando dados primários para tewr uma noção melhor da situação. É assim que se faz ciência, não com propaganda enganosa.
"Antes de publicar conheçam!!!" Ataquei sua frase com Crtl-C, Crtl-V.
Tenho uma sugestão para o próximo post
Que tal um ataque a programação neuro linguistca (PNL)?
Abraço
Enquanto a população se manter ignorante, preferir ver a novela das 20:00 ao ler um bom livro, vai ter muita gente pagando caro por pseudo-medicinas como acupuntura/homeopatia e etc.
As pessoas devem aguçar seu senso - critico e entender que para um medicamento/terapia funcionar e ser aprovada e reconhecida como eficaz ela tem passar por um longo processo de analise, check - re-check, e não apenas se basear que meia dúzia de pessoas se "beneficiará" com a dita "técnica".
Enquanto a comunidade cientifica não aprovar, continuará sendo placebo...e dos grossos.
Abraços.
Aproveitem seus tempos ajudando uns aos outros, com objetivos em comum de ajudar as pessoas e proporcionar condições de vida melhores...
Pra que ficarem atacando uns aos outros? É tempo de amar.
Manipulação cirurgica da coluna causa mais danos à mesma do que a manipulação quiroprática. Não se deve deixar de mencionar a iatrogenia anestésica associada.
Para dar credibilidade ao seu comentário seria interessante quantificar o grau de iatrogenia em tratamentos de coluna por ortopedistas bem como a comparação entre manipulação cirúrgica da coluna e manipulação quiroprática. Nesse item também caberia uma comparação entre os resultados de cada uma das técnicas a médio e longo prazo. Da mesma forma, a iatrogenia anestésica também deveria ser quantificada.
Não se ganha credibilidade fazendo afirmações sem substanciá-las com dados. Veja as afirmações falsas (apesar de bem intencionadas) do Andreo acima.
Pensei que era só eu na blogosfera em Portugues a preocupar-me com este tema.
Parece que só porque o Simon é Inglês que não é problema nosso. Em que mundo vivemos afinal?
A blogosgerda norte americana teve uma reacção muito mais consistente.
Bom post. Vão direto a todos os topicos importantes.
sou enfermeiro, especializado em gestão e especializando em acupuntura, entre outros cursos na área holística... meu TCC (graduação) foi sobre pesquisas científicas na área de terapias complementares (não se fala mais "alternativa"). digo pra vcs q por ser um campo holístico não tem como se provar por meio da pesquisa cartesiana!! procurem se informar melhor, não julguem antes de contemplar o todo! a maioria das pessoas que falam contra estas terapias o fazem por ter colocado na cabeça q é assim e pronto... mas não vão fundo na questão!! é claro q como em toda profissão há profissionais e profissionais né!! na acupuntura nós chamamos o mal profissional de agulheiro, significa q esta pessoa só conhece os pontos de acupuntura mas não sobre a terapeutica incluindo como fazer o diagnostico correto! a escola em que faço a minha especialização em acupuntura é a única no Brasil credenciada pelo MEC (INCISA - IMAM)!
a OMS (oragização mundial de saúde) incentiva o uso de terapias complementares!!! as coisas não são feitas "pelas coxas" não galera.. o governo chinês mesmo incentiva pesquisas igualmente na medicina tradicional deles e na medicina convencional, e o caminho é por aí, um equilíbrio das duas!! ambas são importantes e tem seu destaque conforme a necessidade!!
falando de placebo... já vi muitas curas acontecendo no ambulatório de acupuntura em que faço estágio.. e o engraçado é q se fosse efeito placebo, este deveria ter ocorrido quando o paciente tomava remédios para a dor (q não funcionavam) e no entanto a acupuntura resolveu a dor! então nada de placebo!
já vi muitas curas acontecendo no ambulatório de acupuntura em que faço estágio.. e o engraçado é q se fosse efeito placebo, este deveria ter ocorrido quando o paciente tomava remédios para a dor (q não funcionavam) e no entanto a acupuntura resolveu a dor! então nada de placebo!
Para o efeito placebo funcionar, nem precisa de medicar o paciênte com o remédio, simplemente basta o mesmo acreditar que está se medicando com algo que vá resolver o problema. Até mesmo água funciona. Não há nenhuma prova científica que a Acupuntura funcione, enquanto não tenha, continuará sendo o velho placebo.