Edzard Ernst, homeopatia e outras pseudociências

O médico e pesquisador Edzard Ernst tem uma carreira peculiar. Durante muitos anos ele manteve uma carreira de homeopata (que não deve considerada atividade médica, como muito bem apontado por um "Médico E Homeopata" no comentário #11 a esse artigo) paralela ao exercício de medicina. Com dez anos de experiência ele iniciou uma carreira acadêmica que o levou a ser o primeiro Professor Titular de Medicina Complementar e Alternativa (MCA) do mundo na Universidade de Exeter, na Inglaterra. Nessa posição ele começou a estudar, com um rigor científico raro para a área, diferentes assuntos relacionados à MCA. Em uma trajetória notável de honestidade intelectual, Ernst terminou se convencendo do que para céticos parece óbvio: que com raras exceções as práticas de MCA tem efeito igual ao efeito placebo. Imagino o quanto isso deve ter custado para ele: ter demonstrado que aquilo no que ele vinha acreditando por anos não corresponde aos fatos. E passar a dizer isso alto e bom tom, inclusive com uma coluna no prestigiado jornal The Guardian, além de livros e numerosos artigos científicos publicados em revistas com rigoroso processo de revisão por pares.
A Época dessa semana publica uma excelente entrevista com o Prof. Ernst. No entanto ela não menciona um fato recente que o colocou em evidência na mídia européia.
Em 2005 o Príncipe Charles, adepto de MCA entre outras bobagens, encomendou ao economista Christopher Smallwood um estudo que mostrasse que MCA é barata e valeria apena mantê-la no Sistema Nacional de Saúde britânico. A propósito, o SUS brasileiro, assim como meu seguro de saúde privado, também financia essas práticas. Comentário meu: do ponto de vista estritamente econômico, MCA é muito efetiva: sem tratamento adequado os pacientes morrem mais rápido e assim deixam de onerar os cofres do sistema.
Ernst tornou-se um ácido crítico do relatório Smallwood, inclusive tendo publicado artigos desafiando a metodologia empregada. Ernst foi acusado pelo secretário do Príncipe de ao publicar seus artigos ter rompido um acordo de confidencialidade em relação ao relatório. Ele foi investigado por uma comissão de sindicância da universidade pela qual, segundo suas palavras, ele foi "tratado como culpado até provar sua inocência". A universidade o considerou inocente, mas continuou tratando-o, segundo ele, como persona non-grata. Toda atividade de captação de fundos para sua pesquisa foi interrompida e ele se viu forçado a fechar seu laboratório.  Em 2011 ele aposentou-se, dois anos antes do previsto.
Ernst é o autor, junto com Simon Singh, do excelente livro Trick or Treatment?. Espero que mesmo depois de sua aposentadoria ele continue ativo trazendo mais luz para o entrevado mundo da Medicina Complementar e Alternativa. Não tenho nem nunca tive nada contra os usuários dessas práticas, mas validá-las e transformá-las em políticas de estado certamente não é uma boa prática. Ernst tem sido uma importante voz nessa direção.

Comentários

Jairo Grossi disse…
Li a entrevista no site da Época, que você passou.

Antigamente, quando o Dr. Ernst recomendava um tratamento homeopático a um paciente com dores de cabeça, e após algum tempo, o paciente retornava e relatava que as dores haviam sumido, ele conclui hoje que na verdade isso se devia provavelmente ao efeito placebo.

Deixa ver então se estou entendo a principal preocupação de tantas pessoas com a disseminação da homeopatia:

Naqueles casos, se considerássemos que houve, para o paciente, um resultado satisfatório naquele momento, ainda que tivesse sido de ordem psicológica, o perigo estaria no fato de que, não tendo havido na realidade uma cura efetiva, esta falsa sensação de bem estar poderia estar mascarando um problema maior, como um tumor cerebral, por exemplo, que poderia ser diagnosticado a tempo, caso o problema fosse atacado sem o intermédio da prática homeopática?

Se é isso, acho que esta sensação falsa de cura, realmente pode se tornar muito perigosa. Ou não, caso pensarmos, como você diz, apenas em termos econômicos, ou seja, morre gente mais rápido, e assim o governo economiza.

Admiro estas pessoas, como o Dr. Ernst, que renunciam à estabilidade e “conforto” de um cargo acadêmico, provavelmente bem remunerado, em favor da defesa por algo no qual acredita ser um alerta àqueles que adotam práticas duvidosas, confiando inocentemente nas suas eficácias. Temos vários casos como este na história da Ciência, não é mesmo?
Pena que, em muitos deles, o reconhecimento do bem causado à humanidade por estas heróicas personalidades, tenha sido feito tardiamente demais.

Continue denunciando e alertando. Eu mesmo, nunca havia parado pra pensar no perigo. Afinal, o que tem de mais, pensava eu, cada um na sua. Mas vejo que se o problema crescer e não for devidamente esclarecido, daqui um tempo poderá ser difícil convencer um parente próximo de que a homeopatia pode ser uma "fria". Afinal, diria ele:
- Mas dá certo com tanta gente, e é aceito pela medicina...
Elys Saad disse…
Por todas as suas qualificações acadêmicas, achei o seu texto grosseiro, insipiente e incipiente, além de ser de índole medíocre.
Não sou a favor nem contra a homeopatia, só acho que a palavra de um único cientista não pode ser tomada de forma isolada. Outros estudos científicos devem comprovar (ou não)a afirmativa do cientista.
Paulo Rebeque disse…
Não penso ser exagero, como outros pensam, classificar o tratamento homeopático como pseudociêcia. Temos que ter em mente que o progresso de hoje podermos curar inúmeras doenças que outrora não tinhamos tal capacidade foi, sem sobra de dúvida, proporcionado pela experiência científica.
Pensar que a curar vem pelo simples ato de desejá-la não é o caminho correto!!!