A prova matemática definitiva de que a eleição presidencial de 2018 foi fraudada

O presidente Bolsonaro anunciou que tinha provas de fraude nas eleições de 2014. Segundo um vídeo divulgado por Naomi Yamaguchi, a existência de um padrão nos números comprova que "esses números foram frutos de uma fórmula matemática". A "variação do incremento" minuto a minuto mostra um padrão de alteração Dilma/Aécio por 241 vezes ao longo da apuração. Ainda segundo o vídeo, a chance disso acontecer em termos de probabilidade é 1 em 1072, um número maior que a quantidade de átomos na galáxia. Isso só pode ser resultado de fraude. Parte da sequência suspeitíssima aparece no vídeo.

Imagem do vídeo de Naomi Yamaguchi mostrando a "improvável" sequência da "variação do incremento" minuto a minuto com alternância Dilma/Aécio na frente  na apuração da eleição de 2014.

Além disso, a mesma análise mostrou que os números da totalização violavam de forma escandalosa a lei de Benford, a famosa lei do primeiro algarismo que já foi usada muitas vezes para desbancar fraudes financeiras. Em lugar de mostrar as incidências previstas pela lei de Benford, os gráficos produzidos na análise usando os dados da eleição de 2014 mostram picos suspeitos em torno do algarismo 5 para os  dois candidatos.

Imagem do vídeo de Naomi Yamaguchi mostrando de forma inequívoca a violação da lei de Benford. as curvas apresentam os picos em torno de 5 em lugar da distribuição à direita.

O vídeo, produzido entre o primeiro e o segundo turnos da eleição de 2018, chega à única conclusão possível diante das evidências: houve 100% de chance das eleições de 2014 terem sido fraudadas. O vídeo ainda é taxativo: em 2018, há um risco muito grande da fraude se repetir.

O Cultura Científica, sempre ciente de sua responsabilidade em relação a uma denúncia tão grave como essa, vai comprovar os piores temores de Naomi e seu interlocutor: usando a mesma planilha que o vídeo usou, gentilmente tornada pública por Conrado Gouvêa, aplicando os dados do segundo turno de 2018 e exatamente o mesmo raciocínio do vídeo, provaremos definitivamente que a eleição de 2018 foi fraudada da mesma forma que a de 2014.

Os dados da apuração minuto a minuto de 2018 foram publicados pelo G1, mesma fonte usada no vídeo.

Eu substituí os dados de 2014 pelos de 2018 para investigar se houve fraude novamente em 2018. A planilha completa é pública e pode ser consultada. O resultado é assustador. 

Planilha idêntica à usada para provar a fraude nas eleições de 2014 aplicada às eleições de 2018. Tirem suas próprias conclusões, como costuma afirmar um digno vereador do Rio de Janeiro.

Em 2018 a "variação do incremento" minuto a minuto mostra um padrão de alteração Bolsonaro/Haddad 284 vezes. 43 vezes mais do que em 2014. A chance disso acontecer em termos de probabilidade é 1 em 1085, mais do que o número estimado de átomos no universo! Dessa vez foi pior que em 2014, quando ficamos satisfeitos com o número total de átomos na galáxia.

Apesar do vídeo mencionar que estaria havendo uma melhoria em relação à lei de Benford em 2018, os resultado continuam muito suspeitos. Em lugar das curvas decrescerem monotonicamente como esperado, há um pico no dígito 4 para Haddad e no 5 para Bolsonaro.

Esses dados só permitem uma conclusão:

Se as eleições de 2014 foram fraudadas, as eleições de 2018 também foram.

Será?

Claro que não. Todo o raciocínio apresentado até aqui está completamente errado. Bolsonaro não tem prova alguma de fraude e tudo o que vem afirmando sobre o assunto é mentira e desinformação.

Esse texto é o terceiro de uma série sobre o assunto. Para quem quem quer se aprofundar no assunto recomendo a leitura do primeiro, do segundo e também do detalhamento feito pelo Conrado Gouvêa.
Esse assunto envolve 4 mentiras:
  1. Padrão oscilatório do "incremento da variação" minuto a minuto não é prova de fraude, mas das oscilações estatísticas me torno dos números totalizados. Algum padrão vai ocorrer, mas não podemos prever qual. Qualquer sequência Bolsonaro/Haddad é igualmente provável, com ou sem regularidade.
  2. A forma de obter o "incremento da variação" está errado, sempre resultando em padrão oscilatório independentemente dos números usados na planilha. É por isso que ele aparece na eleição de 2014, na de 2018 e em qualquer outra eleição envolvendo dois candidatos.
  3. A lei de Benford precisa ser modificada para eleições envolvendo dois candidatos. Os dígitos mais prováveis em casos em que os números só cubram uma ordem de grandeza são 4, 5 ou 6.
  4. O autor da planilha aplica a lei de Benford de forma equivocada, usando os números totalizados em lugar de cada incremento. Como pelas 18:43 Bolsonaro passou de 50 milhões e Haddad de 40 milhões e continuaram com esse primeiro dígito até o final da contagem, é óbvio que Haddad deve te rum pico em 4 e Bolsonaro em 5. O autor não entendeu o que significa a lei de Benford.
A única fraude nessa história é a análise mal feita, usando um modelo delirante e cálculos errados que sempre resultam num padrão oscilatório. É tão primário que fico em dúvida se quem fez é realmente incompetente ou se fez a planilha errada de propósito só para enganar uma massa pouco instruída e propensa a acreditar em qualquer coisa que seu líder afirma.
Infelizmente esse tipo de fraude não é uma raridade no governo atual.
Em sua live de 29/07/2021 depois de 2:02h de vídeo Bolsonaro afirmou que determinou ao Ministro da Justiça que solicite à Polícia Federal uma investigação sobre as eleições de 2014.
Caso a Polícia confirme a fraude na eleição de 2014 o mínimo que deve fazer é anular as de 2018 por exatamente a mesma fraude.

Comentários

Anônimo disse…
https://conradoplg.medium.com/comprovando-que-bolsonaro-est%C3%A1-mentindo-sobre-a-suposta-fraude-das-elei%C3%A7%C3%B5es-de-2014-542a2dab373a
Abraços
Caro Anônimo, obrigado pelo comentário. Eu usei a planilha preparada pelo Conrado nessa postagem, como explicado no texto. A referência completa ao excelente texto dele está em "A história completa dos 271 átomos (ou serão 241?) e da fraude que não existiu nas eleições de 2014".