A Guerra das Vitaminas: O dia D

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Tivemos vários assuntos polêmicos provocados pela seção Tendências/Debates da Folha de São Paulo recentemente. Um deles rendeu uma batalha de cartas no Painel do Leitor do mesmo jornal. Fiquei um pouco surpreso com a agressividade implícita em algumas cartas, mais comum em debates apaixonados do que científicos. Uma busca no Google mostrou que isso é só a ponta de um enorme iceberg de ciência mal feita.
Para mim a história começa antes. No ano passado minha filha mais velha teve receitada uma
complementação de vitamina D. Um teste de laboratório mostrou que ela tinha insuficiência dessa vitamina. A endocrinologista, que também cuida de mim há mais de uma década, me disse que não é nada para se preocupar, é comum jovens em Campinas terem insuficiência de vitamina D por não se exporem o suficiente ao sol. Efetivamente complementação oral de vitamina D é recomendada a pessoas com carência dessa vitamina, e aparentemente só nesse caso.
Em 8/5/14 o Prof. Morton Scheinberg da USP e do Hospital Israelita Albert Einstein, publicou no T/D texto O mito da vitamina D. A resposta no T/D veio no dia 2/6/14 por parte do Prof. Cicero Galli Coimbra, da UNIFESP e do médico e ex-deputado federal Walter Feldman: A verdade sobre a "vitamina" D. Logo começaram as cartas: O Prof. Scheinberg no dia 3/6/14 escreve ao Painel do Leitor afirmando que "Recomendar doses elevadas de vitamina D como terapia inovadora para doenças autoimunes carece de fundamento científico.". No dia 4/6/14 o médico e ex-deputado Feldman lançou o livro de sua autoria Vitamina D e Esclerose Múltipla - A Chave Brasileira das Doenças Autoimunes. O lançamento contou com a presença de políticos, jogadores de futebol, chiques e famosos. Teve até cobertura por um programa de TV de gosto duvidoso. O Painel do Leitor de 8/6/14 da Folha publicou carta do Prof. Tarso Adoni em que ele afirma que "Os autores agem de má-fé ao assumirem uma relação causal entre deficiência de vitamina D e o aparecimento de uma doença autoimune tão complexa como a esclerose múltipla." O Painel do Leitor do dia 11/6/14 discute o assunto. O Prof. Tarso Adoni insiste que não há comprovação científica para esse tipo de terapia. Marcelo de Palma e Sergio de Palma, vice-presidente e secretário do Instituto de Autoimunidade saem em defesa de Coimbra e Feldman citando "vasto respaldo científico de extrema confiança"; Michele Sallum, pedagoga de Curitiba sugere que o Prof. Adoni está mal-informado e "pago por algum laboratório para escrever isso"; Carlos Antonio Anselmo Guimarães, médico de Curitiba sugere que se consulte a Colaboração Cochrane, onde a conclusão é que "não há evidências que justifiquem seu [vitamina D] uso". Ana Emilia Gurniak, irmã de paciente em São Paulo se diz indignada com as "absurdas acusações" do Prof. Adoni e "Quem está no dia-a-dia do tratamento sabe muito bem que o ele é eficaz, seguro e barato." Ana C. N. Sasaki, de São Paulo, recomenda cautela ao divulgar resultados sobre o assunto e Maurílio Polizello Jr., farmaceutico de Ribeirão Preto, afirma que "Estatisticamente, mesmo com poucas comprovações científicas, pessoas que desenvolveram doenças autoimunes como esclerose múltipla apresentam níveis muito aquém dos valores mínimos estipulados de vitamina D no sangue." e portanto toma sua dose diária da vitamina. Não consigo entender como uma estatística bem feita pode se contrapor a comprovações científicas.

O que realmente sabemos sobre a vitamina D?
Um artigo recente com o sugestivo título Status da Vitamina D em um país ensolarado: onde foi parar o sol? reporta uma preocupante e inesperada carência de vitamina D entre 603 voluntários. Em grandes centros urbanos a exposição ao sol não é suficiente para garantir a síntese de vitamina D nos níveis mínimos recomendados. O artigo recomenda o monitoramento do serum 25 vitamin D (s25(OH)D) mesmo num país ensolarado como o Brasil. Ou seja, é razoável supor que parte importante da população tem carência de vitamina D, e nos casos em que isso se confirma deve ser indicada a complementação.

O que realmente sabemos sobre esclerose múltipla?
Não muito. Não sabemos o que a causa. Conhecemos bem os sintomas. Os protocolos de tratamento são tão pouco eficazes que estima-se que 70% dos pacientes recorrem à medicina complementar e alternativa.

A terapia proposta pelo Prof. Cícero enquadra-se nesse contexto. É uma terapia complementar e alternativa. O "Instituto de Investigação e Tratamento de Autoimunidade"  do qual os senhores de Palma são diretores não é um instituto de pesquisa, mas uma ONG recheada de boas intenções. O presidente é exatamente o Prof. Cícero Galli Coimbra. Três diretores têm o sobrenome de Palma. Um deles provavelmente é um ex-paciente do Prof. Coimbra. No Lattes do Prof. Coimbra não há uma única publicação científica relacionada a Vitamina D e Esclerose Múltipla. Certo está o Dr. Guimarães. O correto nesse caso é consultar a melhor referência sobre o consenso médico do mundo, a colaboração Cochrane: Não há evidências que recomendem o tratamento de esclerose múltipla com vitamina D. O consenso da Academia Brasileira de Neurologia é claro e está em negrito no artigo: "Não há evidência científica para o uso de vitamina D como monoterapia para esclerose múltipla na prática clínica até a preparação desse consenso".

É possível que o Prof. Coimbra tenha razão e seu protocolo seja realmente revolucionário no tratamento da esclerose múltipla. No entanto, enquanto um estudo duplo-cego aleatorizado não for realizado será impossível saber. Até que isso aconteça o mais prudente é seguir o recomendado no consenso da ABN.

O Globo Reporter fez uma matéria com um tom meio nacionalista sobre o tratamento do Prof. Coimbra. Ali ele afirma que "não há como você chegar e dizer que precisa de um estudo controlado, porque se você tivesse por exemplo um filho seu com esclerose múltipla, você jamais colocaria essa pessoa, aceitaria que ela fosse para o grupo placebo, para mostrar o quanto ela iria mal”. Se o Dr. Feldman, que não tem treinamento nem experiência em pesquisa afirmasse isso seria ruim mas compreensível. A recusa do Prof. Coimbra a submeter seu protocolo a um estudo duplo-cego aleatorizado é inadmissível.

Tem razão os doutores Scheinberg, Adoni, Guimarães e Sasaki: atualmente, a panaceia dos doutores Coimbra e Feldman não é mais que uma forma de medicina complementar e alternativa e não tem evidências científicas que justifiquem seu uso como tratamento primário para esclerose múltipla.

Disclaimer: Não sou pago por laboratório algum para fazer essa análise!

Upideite 18/6/14: Deu no site da Veja a matéria Vitamina D pode evitar mortes por câncer e doenças cardiovasculares, com referência ao artigo Vitamin D and mortality: meta-analysis of individual participant data from a large consortium of cohort studies from Europe and the United States que foi publicado ontem no British Medical Journal. Vale a pena ler as conclusões do artigo original como um indicador de como se deve proceder em ciência bem feita: "Apesar dos níveis de 25(OH)D variarem fortemente com país, sexo e estação do ano, a associação entre o nível de 25(OH)D e a mortalidade por qualquer causa e por causas específicas é notavelmente consistente. Os resultados de um estudo aleatorizado com grupo de controle testando a longevidade são esperados antes que a suplementação de vitamina D possa ser recomendada para a maioria dos individuos com baixos níveis de 25(OH)D." O grifo é meu.
Ao contrário do que a Veja afirma, em lugar algum do artigo há alguma indicação de que "a equipe acredita que a pesquisa tem uma grande relevância na saúde pública, mostrando que o combate à deficiência em vitamina D deve ser uma prioridade."

Upideite 21/6/14: Folha volta a tratar do assunto. Corretamente menciona a falta de comprovação científica para o protocolo do Dr. Coimbra e o consenso da ABN.


Referências

Unger, M., Cuppari, L., Titan, S., Magalhães, M., Sassaki, A., dos Reis, L., Jorgetti, V., & Moysés, R. (2010). Vitamin D status in a sunny country: Where has the sun gone? Clinical Nutrition, 29 (6), 784-788 DOI: 10.1016/j.clnu.2010.06.009

Yadav, V., Shinto, L., & Bourdette, D. (2010). Complementary and alternative medicine for the treatment of multiple sclerosis Expert Review of Clinical Immunology, 6 (3), 381-395 DOI: 10.1586/eci.10.12

Jagannath VA, Fedorowicz Z, Asokan GV, Robak EW, & Whamond L (2010). Vitamin D for the management of multiple sclerosis Cochrane Summaries DOI: 10.1002/14651858.CD008422

Brum, D., Comini-Frota, E., Vasconcelos, C., & Dias-Tosta, E. (2014). Supplementation and therapeutic use of vitamin D in patients with multiple sclerosis: Consensus of the Scientific Department of Neuroimmunology of the Brazilian Academy of Neurology Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 72 (2), 152-156 DOI: 10.1590/0004-282X20130252

Schottker, B., Jorde, R., Peasey, A., Thorand, B., Jansen, E., Groot, L., Streppel, M., Gardiner, J., Ordonez-Mena, J., Perna, L., Wilsgaard, T., Rathmann, W., Feskens, E., Kampman, E., Siganos, G., Njolstad, I., Mathiesen, E., Kubinova, R., Paj k, A., Topor-Madry, R., Tamosiunas, A., Hughes, M., Kee, F., Bobak, M., Trichopoulou, A., Boffetta, P., Brenner, H., & , . (2014). Vitamin D and mortality: meta-analysis of individual participant data from a large consortium of cohort studies from Europe and the United States BMJ, 348 (jun17 16) DOI: 10.1136/bmj.g3656

Comentários

Unknown disse…
Em 2006 vi minha sobrinha, então com 22 anos, ir para cadeira de rodas, após 5 anos com diagnóstico de esclerose múltipla. Já tinha, até a data, utilizado todos os medicamentos conhecidos, sem resultado. Buscando alternativas, encontrei o dr. Cícero Coimbra, junto com relatos de pacientes, atestando resultados importantes.
Desde essa época ela adotou como terapia o protocolo da vitamina D. Como resultado, ela hoje leva vida normal, longe da cadeira de rodas, usando transporte público para ir trabalhar.
Como agradecimento, passei a divulgar o protocolo, o que hoje é feito pelo grupo no Facebook intitulado "Esclerose Múltipla Tem Solução-BemditasVitaminas", com mais de 7 mil membros.
Os relatos encontrados lá são, invariavelmente, de bons resultados obtidos.
Agora pergunto, se não conhecemos o verdadeiro papel da vitamina D, como podemos dizer que temos deficiência ou não?
Outro ponto, o que vem a ser "comprovação científica", e como podemos obter essa comprovação sem experimentação?
Por último, como podemos negar a eficácia do protocolo, vendo os mais de 2 mil pacientes do dr Cícero cheios de saúde?
Caro Sergio,
Obrigado pelo comentário. É terrível ter um problema grave de saúde na família, e é maravilhoso ver ele melhorar.
Ocorre que em uma patologia sobre a qual conhecemos tão pouco como esclerose múltipla, é fundamental isolar o que acreditamos ser a causa da cura de outros fatores que não conseguimos controlar. Isso é feito através de um protocolo experimental chamado Teste duplo-cego aleatorizado com grupo de controle. Qualquer conclusão que não siga rigorosamente esse protocolo não pode ser levada a sério pela comunidade científica. Veja também o meu post sobre teste duplo cego.
Igor Vidal disse…
Sergio, não entendo que a discussão seja sobre a eficácia da Vitamina D ou qualquer inveracidade dos resultados, mas sobre o discurso pseudo-científico, do tipo "vasto respaldo científico de extrema confiança". Vemos que esse respaldo até hoje não existe. E eu desejo que exista um dia; que definitivamente se prove a verdadeira relação da vitamina com a esclerose múltipla, que se possa descartar qualquer efeito colateral ou placebo como a explicação para a melhoria dos pacientes e, enfim, publicar e divulgar o resultado.

Esta situação se parece com o mito chinês sobre o eclipse: antigamente eles acreditavam que um dragão engolia o sol e batiam em panelas e vasos para espantá-lo e, você pode imaginar, sempre funcionava, pois o sol voltava a brilhar!

Ah se os antigos chineses soubessem a verdadeira causa do eclipse... Quando soubermos a verdadeira causa da esclerose múltipla e a real eficácia da vitamina D no tratamento, então salvaremos ainda mais vidas. Até lá, eu não posso dizer que significa mais do que um mito.

E, sim, eu bateria panelas também.

Abs.
David Neves disse…
Leandro,

Muito bom seu blog. Já tinha lido sobre o estudo Duplo Cego aqui mesmo.

Li tudo que você escreveu, e acredito que a sua conclusão correta sim, porém analisando somente a ponta do iceberg.

Hoje já se sabe um pouco mais sobre Esclerose Múltipla, porém todos os estudos da industria farmacêutica é focada na administração de novas drogas.

Como exemplo, já se sabe que pessoas com EM possuem um defeito no gene CYP27B1 (gene esse, inclusive do metabolismo da vitamina D). Portanto, o discurso que não sabemos o motivo da EM já é um pouco duvidoso. Na verdade não sabemos o porque há este gene danificado.

Um estudo randomizado (mas não duplo cego) com 465 pacientes com EM (duração de 5 anos) confirmou que baixos índices de vitamina D é fator de risco para a atividade e progressão da EM. Segue o link: http://archneur.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1815002

Já há estudo no Brasil mostrando que a prevalência de EM em Santa Maria, Rio Grande do Sul é maior que outras regiões. Inclusive no próprio estudo informa que a baixa taxa de vitamina D é uma possível razão para própria EM. Segue o link: http://www.scielo.br/pdf/anp/v72n2/1678-4227-anp-72-02-00104.pdf

Na parte prática, o que percebemos, é que a qualidade de vida, em geral, é muito diferente das pessoas que se tratam com o protocolo da vitamina D, e as que se tratam com os demais medicamentos. Já vimos até filho de neurologista tradicional com EM utilizando o protocolo do Dr. Cícero.

O que quero dizer com isso tudo, é que todas os estudos mostram evidências gritantes da relação vitamina D e EM. O que vemos, na prática, são as grandes associações, como a ABEM (Assoc. de EM), e a Academia Brasileira de Neurologia, por exemplo, ficarem de braços cruzados para o assunto. Eles têm milhares de pacientes, e poderiam realizar um grande estudo. Por que não fazem?

O próprio beta interferon, remédio mais usado para EM, já têm estudos provando a ineficácia, a longo prazo para a EM. O outro lado da moeda? De 2010 até 2012 foi o medicamento que deu o maior faturamento da Bayer. Em 2013 caiu para a segunda posição. Isso de todo e qualquer medicamento, e não somente medicamentos de EM. É cientificamente comprovado para EM? Sim! Porém, deve ser melhor que placebo somente. Além da infinidade de efeitos colaterais relatados.

Resumo de tudo: diante de uma doença incurável, progressiva e debilitante, com os tratamentos existentes convencionais, as grandes associações sabem de todas as evidências (da vitamina D e EM) e a importância delas. A industria farmacêutica é uma empresa com fins lucrativos somente. Portanto, sabemos que ela não tem interesse em realizar grande estudo para uma substância não patenteável. Quanto às associações, já passou da hora, faz tempo, de realizar grandes estudos sérios sobre o tema.

Garanto que se você acompanha-se de perto pessoas com EM que mudaram completamente o curso da doença por causa do tratamento da vitamina D (não é reposição, e sim tratamento mesmo), garanto que estaria junto comigo se perguntando, por que as grandes associações, e muitos médicos nada fazem a respeito? Por que não fazer logo um grande estudo randomizado e duplo cego?

Obs: desculpe, mas o texto do Morton Scheinberg (pesquisador de medicamentos de alto custo) está com erros graves. Ele comenta que a grande maioria das pessoas apresenta deficiência de vitamina D a partir dos 65 anos, isso não é verdade. Também comenta que recentes simpósios internacionais mostraram benefício até inexistentes da vitamina D em enfermidades que não sejam se origem óssea. É justamente o contrário o que está acontecendo. O que já vimos por aqui foi médico indo a simpósios internacionais, e quando vimos o resumo do simpósio, foi diferente do que o médico entendeu, ou seja, o médico viajou ao exterior para o simpósio, mas a princípio, não acompanhou, ou não teve interesse no assunto.

Um abraço.

David Neves.
Ana Claudia disse…
Leandro, sou paciente do Dr. Cícero Galli há 6 anos, e vou me posicionar aqui apenas como paciente. Desde que me consultei com Dr. Cícero, em 2008 nunca mais tive um problema sequer com a Esclerose Múltipla. Antes, quanto tomava os medicamentos convencionais, tinha apenas pioras e problemas de saúde com os efeitos colaterais. Vivo nos EUA e a neurologista que me acompanha (Dra Elaine Edmonds, especialista em EM da Neurological Clinic of University of New Mexico Hospital)hoje me diz que não me recomendaria nenhum outro tipo de tratamento, baseada nas melhoras que tem visto nesses 6 anos em meus exames de imagem (ressonâncias magnéticas).
Basta entrar nos grupos de EM e outras doenças autoimune das redes sociais para ver os depoimentos dos pacientes e a diferença na qualidade de vida entre quem se trata com altas doses de vit D e quem faz uso do protocolo convencional. Para nós, o que importa são os resultados, e isso a grande maioria dos pacientes do Dr. Cícero encontra.
Quem está certo? Certo está o medico que devolve a saúde a seus pacientes.
Helô disse…
Olá Leandro,
Muito legal o seu blog. Só não compreendi uma coisa: como é que no Brasil, país tão ensolarado, as pessoas estão com falta de D?
Heloisa
Helô disse…
Puxa, não li o livro do Walter, mas por que tachar de pseudo-ciencia algo que apenas ainda não foi estudado exaustivamente? Esse artigo fala de várias pesquisas em andamento, http://www.webmd.com/multiple-sclerosis/news/20140120/vitamin-d-may-slow-multiple-sclerosis-study-suggests.
Minha fonte pessoal de informações sobre saúde vem da Mayo, e eles são bem positivos em relacionar D e MS, também citando artigos publicados, http://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/multiple-sclerosis/expert-answers/vitamin-d-and-ms/faq-20058258.
Você está criticando o hype sobre a questão apenas?
Dorina samba disse…
892Ja existe alguem comm com Lupus ou com Chron fazendo tratamento atraves da vitamina D?
Dorina samba disse…
alguem sabe se já foi utilizado este tratamento em portadores de doença de Chron?
Caros,
Obrigado pelos comentários.
Eu gostaria de aprofundar um pouco os ótimos comentários do David e da Helô.

1. Gene CYP27B1: Se por um lado é muito importante buscar uma causa genética para a Esclerose Múltipla (EM), os resultados para o CYP27B1 são controversos. Alguns estudos encontram correlação, outros não. Mas é sem dúvida um caminho a ser explorado numa doença multifatorial.

2. O artigo no JAMA Neurology é muito interessante. No entanto, note que ele estudou pacientes tratados principalmente com interferon-b1. Não sugere que esse tratamento seja substituído por uma monoterapia com vitamina D.

3. O estudo de Santa Maria é muito importante. No entanto, os autores chamam a atenção para as limitações da metodologia. Enquanto não tivermos bons estudos epidemiológicos para todo o país as conclusões serão especulativas.

4. Concordamos que seria fundamental fazer um grande estudo duplo-cego aleatorizado. Não cabe a alguma associação profissional fazer isso, mas a pesquisadores profissionais. Esses estudos precisam ser regulados por comitês de ética e seguir rigorosos protocolos científicos.

5. Suas observações sobre a big-pharma são absolutamente procedentes, mas isso não sigifica que tratamentos alternativos sejam obrigatoriamente eficazes. Esse tipo de contraposição é recorrente e aparece na carta de Michele Sallum citada no texto. Sempre a big-pharma é citada quando algum tratamento alternativo se mostra ineficaz.

6. Por que não fazer logo um grande estudo randomizado e duplo cego?

Note que não estou afirmando que o protocolo do Dr. Cícero está errado ou certo, ou que isso é pseudociência. Nem tenho meios para isso. Só estou chamando atenção para a falta de comprovação científica e a surpreendente recusa do Dr. Cícero a submeter seu protocolo a um teste duplo-cego aleatorizado.
David Neves disse…
Leandro,

Quanto ao gene CYP27B1, pelo que eu entendi, há sim controvérsia se a mutação dele influenciaria o risco de alguém ser acometido por EM com pesquisas também em familiares dos acometidos por EM, porém outras pesquisas, exclusivamente em acometidos por EM, informaram que eles tinham este gene defeituoso. De qualquer forma parece que algumas pesquisas continuam e mandamento.. procurar ler mais sobre isso e acompanhar...

Apenas uma curiosidade. Nos estudos de vitamina D e EM que mostram controvérsias no efeito positivo, normalmente são doses de 200ui, 400ui por dia. Portanto, estes estudos estão corretos, ou seja, 400ui por dia, para quem tem EM, não costuma tirar ninguém da deficiência de vitamina D. Já fizeram a pesquisas já sabendo a resposta...

Para novas drogas, sempre vemos hospitais, do Brasil mesmo, selecionando pessoas para participar de estudos, ou seja, há a boa vontade de boa parte da classe médica (alguns profissionais não participam) em apoiar estes grandes estudos duplo cegos. Mas como sabemos, estudos com mais de 1000 pacientes, seguindo todos os critérios, é muito caro, portanto os pesquisadores que trabalham para os laboratórios têm todo o apoio, até mesmo para que se caso tenha como efeito positivo em alguma doença, ou seja, melhor que placebo, patentear a nova substância, ou utilizar uma substância para outra doença (quando o efeito colateral do remédio ajuda uma outra doença). Tenho dúvidas se um pequeno estudo randomizado e duplo cego, feito por quer que seja, mudaria o protocolo atual de tratamento de EM.

Realmente neste estudo do JAMA Neurology os doentes estavam sendo tratados com interferon. Outros estudos, como este duplo cego randomizado com vitamina D como complemento também mostra efeitos semelhantes: http://jnnp.bmj.com/content/early/2012/02/21/jnnp-2011-301876.short

Tem um vídeo do Dr. Cícero, feito por um Italiano quando veio ao Brasil, explicando todo o tratamento. https://www.youtube.com/watch?v=hOfO29rL-gI

Na parte do vídeo entre 26m35s e 37m05s ele fala sobre duplo cego não realizado, e também sobre publicação de estudos ainda não realizado. Não sei se você tem tempo e curiosidade, mas este vídeo (ao todo 1h30m) ele explica todo o tratamento, dos porquês, etc..

Obs: não estou respondendo a você não, somente colocando mais informações ao debate. Aliás, obrigado pelo espaço para discussão..
Caro David,
O espírito desse blog é esse mesmo, discutir e aprender sobre a cultura científica.

Sobre custo de estudos: eles são elevados, mas há recursos abundantes para pesquisa de qualidade aqui no Brasil, em particular no estado de São Paulo. Precisa preparar um projeto bem fundamentado e submeter as uma agência financiadora.

Assisti a parte que você recomendou no vídeo. A preocupação do Dr. Cícero procede, mas é justamente por isso que existem comitês de ética (dos quais ele reclama) e possibilidade de comprara a ação de um novo tratamento com um tratamento bem estabelecido. Lembre que estamos falando de uma doença ainda muito pouco compreendida. Repito que não estou dizendo que o tratamento não funciona, mas é inadmissível para a segurança dos pacientes propor um tratamento sem que haja confirmação de sua eficácia por um estudo bem feito. Antes disso o protocolo deve ser classificado como medicina complementar e alternativa.
Anônimo disse…
Me fascina ver que somente médicos particulares que cobram muito caro pela consulta fazem tratamento com esse protocolo de vitamina D. Nenhum destes médicos faz atendimento de convênio ou de serviço público. Quando os doutores das vitaminas forem atender esclerose múltipla no SUS me avisem.
Anônimo disse…
O Dr Cícero não precisa,necessariamente, submeter seu protocolo a uma confrontação com placebo. O tipo de estudo neste caso deveria ser um "head to head", ou seja, comparar a nova proposta a um (ou mais) dos tratamentos já validados. Obviamente, sob a supervisão de um comitê de ética em pesquisa e da CONEP. Mas sinceramente, acho que ele nunca fará isso. Assim como as indústrias têm seus interesses (é fato que elas têm e os defende), o grupo do Dr Cícero tira muitas vantagens da exclusividade deste tratamento. Hoje, segundo dados não oficiais, mas informações divulgadas pelos próprios pacientes, são quase dois mil casos atendidos ou em acompanhamento, a um valor aproximado de R$ 1.000,00 por consulta.
Anônimo disse…
Não questiono o tratamento da EM com o protocolo do Dr. Cícero. Apenas acho hipocrisia da parte dele criticar o foco no lucro por parte da indústria farmaceutica quando o próprio cobra R$1.000,00 por uma consulta.
Anônimo disse…
Caro Leandro Tessler,
Antes de dizer que faltam evidencias, há a necessidade de entender e conhecer diversos poréns. Sou pesquisador, tenho diversos papers publicados, não em vitamina D mas na area da saúde, e assim como alguns colegas pesquisadores da minha universidade também utilizam a suplementação de vitamina D. Sou da area biomedica, mas tenho colegas da area da epidemiologia e de outras que são favoraveis a suplementação de vitamina D. Não será a falta de estudo duplo-cego randomizado que será e deve ser empecilho. Há diversas evidencias que demonstram que há uma deficência generalizada de vitamina D em seres humanos. Não requer nenhum pensamento fora do comum de supor que passamos cada vez mais tempo longe do sol, que é, como sabe, nossa maior fonte de vitamina D. Quanto a epidemia mundial de falta de vit D acho que isso é pacifico, qualquer um concorda. A questão aqui é se esssa falta de vitamina D está na etiologia de diversas comorbidades modernas humanas. O que tambem não requer pensamento muito avançado para relacionar-se e criar uma hipotese. Então, quanto ao teu ponto, se o tal Dr. Cicero deveria ou se recusa a fazer um estudo duplo-cego randomizado, qual é o problema disso? Ele não é obrigado a fazê-lo, nem ele virará charlatão por isso. Se ele está convencido de que funciona, ele teria, ao meu ver, uma questão ética em colocar outros pacientes em placebo. Mas isso é irrelevante, como tu mesmo havia dito, ele não pesquisa sobre vitamina D. De onde ele tiraria o funding para fazer isso? quem tem que fazer são pesquisadores da area, não ele. Ele é um clinico da area que trata pacientes. Ele não teria conflitos de interesses OBVIOS para relaziar esse estudo? Ele é o ÚLTIMO pesquisador que deve realizar essa pesquisa. Quem tem que relaizar são pesquisadores da área sem coflitos de interesses. E porque não foi ainda feito isso por outros pesquisadores? Ninguem tem nteresse será? Há um grande desinteresse de grandes farmacias, por motivos obvios. Vitamina D naõ é patenteavel. Mas enquanto se discute se é eficaz ou não o uso de vitamina D, a industria farmaceutica já tenta produzir diversos analogos de vitamina D patenteaveis. Quando a vitamina D for reconhecida como eficaz no tratamento de diversas efermidades, a farmacia terá pronto uma analogo da vitamina D, um produto “mais seguro, mais eficaz, mais rápido” e etc. A questão é muitissimo simples, mesmo quem acha que não existe evidencias para usar: existem evidencias indiretas ou secundárias ou no minimo que permitem hipotetizar que vitamina D seria eficaz nessas doenças? Se sim, pq não tomá-las? Tomá-las terá efeitos negativos? Até hoje, não se conhece casos de toxicidade nem de problemas reais com suplementação com vitamina D, então pq não o fazê-lo se existe base biológicas, evidências de uma ampla e irrestrita deficiencia de vitamina D. No minimo se estará diminuindo a deficiencia de vitamina D. Haverá riscos? Que eu saiba, nenhum. Qual a dose que gerará toxicidade? Quem já morreu de toxicidade de vitamina D? Agora quantas pessoas morrem e sofrem de deficiencia de vitamina D? É simples demais entender os benefíciosdessa suplementação, os riscos são minimos, pra não dizer inexistentes, e os benefícios são enormes, gigantescos. Não duvide dos interesses escussos da grande farmacia em não querer que vitamina D seja amplamente utilizada, não duvide do pragmatismo deles. Não preciso colocar exemplos aqui de quão maquiavélicos eles podem ser, não?
Para resumir, existe um background muito grande, uma racionalidade muito grande, evidências se amontoando, tanto do ponto de vista molecular, biológico até epidemiológico dos beneficios da vitamina D em diversas efermidades. A falta de evidencia duplo cego randomizado é irrelevante aqui. Pode-se fazer, será excelente se alguem conduzir essa pesquisa
Anônimo disse…
(continuação)
Mas não coloque a culpa do tal Dr Cicero pq ele tem conflitos de interesses e sua etica provavelmente não o permite conduzi-la e colocar alguem em risco que ele sabe que pode tratar com um tratamento tao barato e eficaz. Quem deve conduzir uma pesquisa dessas são grandes pesquisadores, com bastante verba, de preferenica multicentrico. A critica deve ser feita nas universidades e institutos de pesquisa, porque não utilizam o dinheiro do povo, para fazer uma pesquisa pro povo, em alguem tão evidente e tão relevante. Revisoes sistematicas e meta-analises obvio que vao demonstrar não ter efeito, afinal a dose eh absrudamente pequena e os outcomes primarios medidos não são o que desejamos ser medidos. A culpa está sendo colocada em quem não tem nada a ver com o assunto, culpe e peça estudos para quem tem como fazê-los. Me desculpa a sinceridade, mas você está cometendo uma injustiça e um deserviço as milhares de pessoas que tem melhorado de vida, e eu me incluo entre elas (eu, e minha família) graças a algo tão basico e tã absurdamente na nossa cara mas muitos não conseguem ver. Espero que repense teu posicionamento, e espero que cobre de quem merece ser cobrado.
Abraços fraternos de um fã de seu blog.
Anônimo disse…
(continuação2)
vi agora que falam que o tal Dr cicero cobra mil reais pela consulta. Realmente, se isso for verdade, é uma grande pena e um ponto contra ele. Cada um é livre para cobrar quanto quiser, mas pelo jeito só ricos poderiam se consultar com ele. Não o conheço, mas sou usário de vitamina D. E se isso for verdade, é realmente outro confilito de interesses muito importante a ser questionado. Mas isso tb se torna irrelevante. A vitamina D e seus beneficos não dependem de um homem. Se ele tem motivação financeira sobre isso não torna a vitamina d mais ou menos eficaz. No mundo inteiro há pessoas se tratando e sendo felizes sem ele. Outros pesquisadores também praticam a suplementação com D3 Novamente, não é ele quem deveria fazer o estudo, ele, é bm enfatizar, NÃO pode e NÃO deve conduzir esse estudo, seus conflitos de são tanto quanto da industria farmaceutico. Nosso dinheiro de impostos é gasto em tanto pesquisa esdruxula, pq não financiar uma pesquisa dessas? Sempre vejo grants por aí especificos para uma determinada area. Basta o governo federal atraves das agencias de fomento abrir um edital especifico para pesquisas clinica para vitamina d e esperar os aplicantes. A proposta mais interessante do ponto de vita clinico deverá ganhar, ou se pode fazer multicentrico, sei lá. O que não se pode é botar a culpa num unico homem que nem deveria conduzir a pesquisa quando nosso dinheiro eh usado em pesquisas ridiculas Brasil a fora.
Caro Anônimo,
Obrigado por seu longo comentário em 3 partes.
Note que em meu texto em momento algum eu qualifico o Dr. Galli como charlatão. Eu só digo que antes de propor a vitamina D como uma possível cura para esclerose múltipla é preciso tomar as precauções usuais em saúde pública, no caso, a realização de um estudo duplo-cego.
Faça o seguinte exercício: substitua em seu texto "vitamina D" por "homeopatia". Ele continua fazendo sentido, e continua cometendo o mesmo equívoco. Há milhares de pacientes que juram que curam suas doenças através do uso da homeopatia. Alguns até muito próximos de mim.
Não é correto afirmar que não há financiamento para estudos duplo-cego no Brasil. Falta talvez capacidade, vontade e competência com o tratamento de dados estatísticos em equipes de médicos.
Um mecanismo de cura, ainda que desconhecido, precisa ser evidenciado em testes duplo-cego para ser reconhecido. E é no mínimo pouco recomendável (para não usar uma expressão mais forte) proceder com monotratamentos não confirmados e não recomendados pelas associações médicas.
O principal argumento do meu post é que não há evidências suficientes para recomendar o monotratamento de esclerose múltipla com vitamina D.

Grande abraço e continue visitando o blog.
Gustavo Molina disse…
Ola, Lenadro. Você disse: "Um mecanismo de cura, ainda que desconhecido, precisa ser evidenciado em testes duplo-cego para ser reconhecido."

Apenas gostaria que ficasse claro que:

1 ) Os mecanismos não são desconhecidos. Vide http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1471489210000378 e http://link.springer.com/article/10.1007/s00109-010-0590-9 e http://link.springer.com/article/10.1007/s11882-010-0161-8#page-1 e algumas outras dezenas de reviews explicando a mesma coisa

e

2) Quem disse que não há duplo cego ? http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22362918 "Patients in the vitamin D group showed fewer new T2 lesions (p=0.286) and a significantly lower number of T1 enhancing lesions (p=0.004), as well as a tendency to reduced disability accumulation (p=0.071) and to improved timed tandem walk (p=0.076)."
Pop Liberal disse…
Não se pode fazer teste duplo-cego randomizado com pacientes de esclerose múltipla, porque o grupo placebo ficará exposto a doença. Testes double-blind não significam muita coisa em ciência médica, nos dias de hoje, pois podem ser manipulados. Uma revisão pode demorar décadas, e é a única coisa válida.
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O Sr. parte do pressuposto que cientistas não têm interesses pouco éticos. Tivemos a tragédia do Vioxx, Talidomida, DDT e outros. Todos "randomizados" .Os estudos Não provaram nada. Fato. Foram todos adulterados e as partes desinteressantes, extirpadas. Há estudos randomizados até com vitamina B12, que é inútil para todas as neuropatias, exceto em anemia perniciosa, porém foi do interesse da Merck produzir um medicamento com polivitamínico complexo B. A Merck pode simplesmente produzir literatura sobre qualquer coisa!
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Qualquer cientista pode manipular um duplo-cego para omitir resultados negativos. Esta é uma crise da ciência farmacêutica. Eu vi isso, leio uma quantidade enorme de estudos, pois sou doente crônico e conclui que medicamentos bons são engavetados porque são moléculas biológicas, sem patente que vão pro lixo ou alguns cujas patentes expiraram e se quer fazer uso off-label. Os estudos são feitos e engavetados. SImples assim.
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O Sr. está usando também um reducionismo racional com pacientes em falência terapêutica que se beneficiaram do tratamento. Isto não é física. É saúde e é altamente subjetivo. Tratamentos chamados anedocticos são amplamente aceitos em caso de falência terapêutica em uma centena de doenças.
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Não existe apenas duplo-cego também, isso é bastante primário em metodologia científica: existe evidência anedótica, estudos de campo, métodos comparativos. Conclusões que não sigam o "protocolo duplo-cego", simplesmente são aceitas em situações de calamidade, como pacientes em falência terapêutica de EM, desde que razoáveis. E como já foi postado aqui, há duplo-cego sim para o colecalciferol. Há enorme documentação científica que mostra que a vitamina D é reponsável pela ativação de mais de 290 genes, assim como o hormônio cortisol é responsável por tantos outros.
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Afirmar que não há relação entre esclerose múltipla e vitamina D, com tanta documentação publicada, é no mínimo ultrajante a inteligência do leitor.

http://www.nature.com/ejhg/journal/v18/n12/full/ejhg2010113a.html

http://msj.sagepub.com/content/14/9/1220

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2945184/
Caro Bruno,
Muito obrigado por seu comentário.
Tenho algumas observações a fazer:
1. Não é correto afirmar que " Testes double-blind não significam muita coisa em ciência médica, nos dias de hoje, pois podem ser manipulados". Testes duplo-cego continuam sendo a única forma minimamente segura de saber se um efeito se deve a uma determinada causa em ciência médica.
2. Ao contrário do que você diz, afirmar que não há relação entre esclerose múltipla e vitamina D, com "tanta documentação" publicada, NÃO é ultrajante à inteligência do leitor. Na verdade eu não afirmei isso. Eu disse, e mantenho, que não há dados suficientes para afirmar que vitamina D é eficaz como tratamento de esclerose múltipla. Nenhum dos artigos citados contradiz isso, e mesmo assim o assunto ainda é controverso. Voltei a consultar a Colaboração Cochrane, que é taxativa: "The current level of evidence for the effectiveness of vitamin D supplementation in the management of people with MS is based on a single RCT with potential high risk of bias, which does not at present allow confident decision-making about the use of Vitamin D in MS. Therefore, until further high quality evidence is available, clinicians may wish to consider relevant MS guidelines on vitamin D supplementation when making decisions about the care of people with multiple sclerosis. Adequately powered, multi-centred RCTs with a focus on clinical as well as immunological and MRI outcomes that are meaningful to people with MS, and are able to provide insight into the benefits of Vitamin D in people with MS, are still required."
Traduzo só a parte mais importante para a discussão: "O nível atual de evidência para o efeito da suplementação de vitamina D no tratamento de pessoas com EM...não permite uma tomada de decisão confiável sobre o uso de vitamina D em EM."
É preciso saber ler um artigo científico para evitar chegar a conclusões além do que os dados permitem.
Pop Liberal disse…
Olá Leandro R. Tessler, a revisão cochrane tem alguns problemas: Não é muito específica e é apenas uma visão sobre o tema. O estudo da Nature mostra muito mais, está explícito.
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BAEKE, 2010 et al. Mostraram que a vitamina D é imunomoduladora. Como não poderia deixar de ser, há mais de 100 artigos sobre colecalciferol e EM no Pubmed. (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1471489210000378)
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we describe 1,25(OH)2D3 as an immunomodulator targeting various immune cells, including monocytes, macrophages, dendritic cells (DCs), as well as T-lymphocytes and B-lymphocytes
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Artigos do Pubmed:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=cholecalciferol%20multiple%20sclerosis&cmd=correctspelling
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[...]que não há dados suficientes para afirmar que vitamina D é eficaz como tratamento de esclerose múltipla.
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A literatura é conflitante em alguns trechos, mas a evidência anedotica somada aos resultados dos estudos mais positvos é suficiente para tratar pacientes em falência terapêutica com interferons e imunoglobulina. Principalmente, quando os mesmos reagem a terapia. Pacientes com anos de invalidez não abrirão mão do "placebo" se ele funcionar.
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O Sr. continua batendo na tecla do duplo-cego. Duplo-cego não é a única ferramenta em ciência médica, mas é um modo de lucar com patentes. E tampouco é a única forma de propor uma terapia. Corticóides são utilizados para um sem fim de tratamentos, mesmo sem duplo-cego para muitos.
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Terapias com Radiofrequência e crioablação têm sido utilizadas em hérnia discal, mesmo sem duplo-cego. Duplo-cego é muito caro, quem paga não perderá seus lucros porque algumas estatísticas não bateram. Do contrário, não seriam retirados dezenas de fármacos das prateleiras anualmente (como o xarope de codeína e fenilpropanolamina http://www.cmm.am.gov.br/vereadora-alerta-para-mensagens-sobre-proibicao-de-remedios-pela-anvisa/). Esse, ao meu ver, é o mal do ceticismo de conveniência: Exige-se muito critério para o que for conveniente e há uma credulidade subserviente ao establishment.

Até mais.
Caro Bruno,
Obrigado por seu novo comentário.
Vamos por partes. O estudo da Nature não é da Nature, mas do European Journal of Human Genetics que é publicado pelo Nature Publishing Group. É sem dúvida um estudo importante. Os autores são menos conclyusivos do que você está fazendo parecer: "nosso estudo traz mais evidências para o papel da vitamina D na patologia de EM." Segundo meus colegas envolvidos com ciências médicas a colaboração Cochrane é tida como muito confiável na comunidade.
Não deixo de concordar com seu argumento em relação aos pacientes com anos de invalidez. Se está funcionando como terapia talvez seja pouco importante para eles se se trata de efeito placebo ou não.
Mas isso tem limites, e protocolos médicos em geral baseiam-se em consensos e evidências científicas.
Duplo-cego é a ferramenta mais confiável para determinar se um efeito se deve à causa imputada. Não entendo bem a correlação entre duplo-cego e lucro com patentes. Claro que pode haver fraude em má-fé em qualquer estudo, mas isso não muda a natureza.
As agências reguladoras retiram fármacos das prateleiras sempre que detectada alguma fraude ou um efeito colateral não reportado, ou pela falta de eficácia. Cabe a elas garantir que o efeito terapêutico de uma droga não é somente evidência anedótica.
Muitos pacientes (e médicos) usam e defendem a homeopatia como terapia, citando efeitos anedóticos. Todos os estudos rigorosos mostraram que ela não tem efeito maior quer o placebo. Isso só foi demonstrado através de testes duplo-cego.
Isso não é ceticismo de conveniência. Eu adoraria que gotas de princípios ativos diluídas infinitamente e sacudidas freneticamente curassem qualquer doença. Infelizmente isso não corresponde à realidade.
Espero que a vitamina D realmente seja um tratamento simples, seguro e barato para a EM. Só que para que isso seja estabelecido com confiança é preciso realizar estudos rigorosos, além da evidência anedótica e chegar a um consenso na comunidade.

Um abraço.
NETO disse…
Boa tarde, me chamo Neto e faço uso de interferons desde 2011, eu era atleta (jogava vôlei) e de alguns meses para cá, não tenho conseguido correr, sinto dificuldades em subir escadas e até mesmo em caminhar. Sinto que estou caminhando para a depressão pois penso, até a pouco tempo eu era um atleta e hoje não consigo nem caminhar. Ha duas semanas, comecei um tratamento fisioterápico e li a matéria sobre o Drº Cicero e seu tratamento com "vitamina D" e estou pesquisando e procurando me aprofundar no assunto, porém, estou em duvida sobre iniciar o tratamento ou não, os valores do tratamento (se o preço informado é referente a uma consulta ou ao tratamento inteiro) e sobre a sequencia de procedimentos do tratamento. Por favor me esclareçam pois não aquento mais ficar na duvida.
Pop Liberal disse…
Neto, converse com um médico do protocolo do Dr. Cícero, são muitos. Procure-os na Internet e não tome vitamina D por conta própria.
NETO disse…
bom dia, não estou pensando em me auto medicar. Mas alguém pode me dizer se o tratamento iria me auxiliar ou não sera viável interromper o tratamento com interferon para iniciar um tratamento tido como experimental?
David Neves disse…
Neto,

Sobre valores, o tratamento em si não é caro, porém há custo, já que o SUS não disponibiliza. Você encontra profissional médico com consulta entre R$ 300,00 a R$ 700,00. São consultas longas de até 3 horas. Normalmente nos 2 primeiros anos realizamos em torno de 4 consultas. Precisamos realizar diversos exames antes de iniciar o tratamento, e durante o tratamento, portanto ter plano de saúde para realização de exames ajuda bastante. Além da vitamina D, há o complexo vitamínico, e o DHA (ômega 3). As vitaminas podem ser feitas em farmácias de manipulação, o que torna o custo mais acessível. Aqui uma relação de médicos que atendem pelo protocolo: https://www.google.com/maps/d/viewer?mid=zcCNI7XUuw0Y.kPUmwkHjTeoA

O profissional médico explica tudo detalhadamente sobre o protocolo. Somente com acompanhamento médico especializado é possível realizar este tratamento. E somente um médico pode auxiliar você na questão de medicamentos.

Sou paciente de EM também. Faço o tratamento com vitamina D desde o final de 2012. Caso queira conversar, pode enviar e-mail para mim, fique à vontade: davidjneves@gmail.com

Caso queira conhecer outros pacientes, há o grupo “Esclerose Múltipla – O Tratamento” no facebook, além de diversos outros grupos nacionais e internacionais, na internet ( a cada dia cresce o número de grupos internacionais). Ano passado, nós pacientes reunimos e realizamos alguns encontros. Em muitos deles há pacientes com 7, 8 e mais de 10 anos de tratamento. Logo logo faremos um novo encontro. É uma boa oportunidade para conhecer pessoalmente pacientes que possuem a mesma doença que a nossa, e fazem tratamento com altas doses de vitamina D.
NETO disse…
Obrigado
Anônimo disse…
Leandro, você trata homeopatia como charlatanismo e está sendo preconceituoso. Vc tem uma postura cienticifista, onde a ciência tem a última palavra para tudo. Mas a Ciência não é dona da verdade, a ciência é o estudo da verdade. Sabendo a ciência explicar ou não, os processos que tem que ocorrer ocorrem.
Homeopatia não serve para curar "todas" as doenças, mas ajuda muito e trás cura para muitas enfermidades, notadamente as crônicas. Se a Homeopatia atua somente por sugestionamento, como se obtém resultados com crianças e animais?
Minha experiência pessoal com Homeopatia foi a cura de problemas alérgicos na pele somente na idade madura. Passei toda a minha infância até os trinta anos indo à médicos alopatas que só me receitavam pomadas caras, sabonetes e xampus especiais, testes de alergia que não acusavam nada. O problema foi se agravando, uma hora eu tinha urticária, outra hora era dermatite atópica. Eu não podia ter contato com metais, não podia usar jóias ou bijouteria. Somente ouro, mesmo assim nem sempre, em certa épocas mesmo ouro me causava reações. Não podia ter contato com nenhum tecido sintético, lã sintética ou lã natural. Nunca me orientaram sobre modificar a alimentação. Só me indicavam produtos "caríssimos", alguns importados, e que só tinham efeito paliativo.
Quando descobri a homeopatia tive a sorte de encontrar uma excelente médica, além de me passar as medicações, orientou-me sobre certos alimentos que tem efeito alergênico a serem evitados. Fiquei totalmente curada, e hoje uso até bijouteria baratinha de ligas metálicas desconhecidas para mim. Levei minha sobrinha de 1,5 anos à mesma médica porque ela estava com infecção crônica no ouvido e os médicos só receitavam antibiótico atrás de antibiótico, a criança ia ficar com a dentição comprometida, fora todos os outros efeitos colaterais. Pois bem, ficou completamente curada em pouco tempo.
As medicações alopáticas são boas e necessárias para estados agudos, mas elas não tratam a origem da doença, os médicos alopatas não sabem fazer isso. Os sintomas é que são tratados e amenizados. À indústria farmacêutica não são interessante curas fáceis, rápidas e definitivas. É uma indústria da doença e não da saúde. O que os move é dinheiro, só ingênuos para não saberem. Lembre-se da polêmica sobre a quebra das patentes dos medicamentos contra Aids para que pudessem ser oferecidos para populações pobres. Foi uma guerra. Recomendo o livro "Eu não existo sem você", de Melissa Fay Greene, onde ela conta a história verídica de Haregewoin Teferra (etíope de classe média que de repente se viu no meio de uma das maiores crises de saúde pública que já afetaram o mundo. Depois de perder o marido e uma das filhas, Haregewoin se dispôs, com relutância, a abrigar dois dentre os milhares de órfãos da Aids que havia em Addis Abeba, Etiópia) ao mesmo tempo em que disseca toda a política da indústria milionária farmacêutica com relação aos países do 3º mundo. Se estivessem preocupados com saúde não teriam atitudes tão abjetas. Leia o livro e entenderá.
Vejo essa mesma postura com relação à Vit. D3 (colecalciferol). As pessoas colocam seus testemunhos e são desacreditadas só porque não foi corroborado pela indústria farmacêutica, que são os que promovem congressos e pesquisas direcionadas à fabricação de medicamentos com elementos sintetizados. Cura com elemento não patenteável não interessa a eles.
Cara Anônima,
Muito obrigado por seu comentário.
Preciso discordar de alguns pontos que você pontua.
Como você afirma corretamente, a Ciência não é a dona da verdade mas estuda os fatos da realidade. E com você aconteceu algo que é bastante comum: confundir uma experiência pessoal não controlada (o que em inglês chamamos de anedoctic evidence com um fato real.
No seu caso, os médicos que você chama de alopatas (eu chamo de médicos) certamente não conseguiram diagnosticar corretamente sua doença ou não conseguiram propor um tratamento eficaz.
E sua homeopata sem querer acertou: note que ela "além de me passar as medicações, orientou-me sobre certos alimentos que tem efeito alergênico a serem evitados". Muito provavelmente foi a abstinência de alimentos a serem evitados e não os remédios homeopáticos que curaram suas alergias. Não conheço detalhes suficientes sobre sua sobrinha para comentar o caso dela.
Os remédios homeopáticos são em geral água ou bolinhas de açúcar, sem efeito nenhum. O único efeito que apresentam é o efeito placebo, sobre o qual já escrevi mais de uma vez. Nós não podemos desligar o efeito placebo, e é por isso que não se pode usar evidência anedótica como uma representação fiel da realidade.
Sobre a atitude da indústria farmacêutica, note que em momento algum abordei esse assunto. Só que uma atitude mentirosa e fraudulenta da big pharma não significa que os remédios homeopáticos tenham efeito maior que o placebo. Aqui você mistura dois assuntos distintos.
O mesmo vale para a vitamina D. Há muitas evidências anedóticas. Falta um estudo duplo cego aleatorizado para verificar se o efeito é real.
Oliveira disse…
A saúde das pessoas é algo mais sério e mais urgente do que os caprichos da comunidade científica.
fernanda disse…
Como acreditar na idoneidade de indústrias farmacêuticas (assim como comunidades cientificas, que têm seus estudos e congressos bancados por tais industrias) quando sabemos, por exemplo, que a Bayer (umas das empresas que mais lucram com EM) manteve um grupo de médicos e pesquisadores promovendo experimentos diabólicos no campo de concentração nazista em Auschwitz? Seria este o teste duplo-cego? Cegar as pessoas e esconder a verdade na sua saga pelo poder, controle e dinheiro? Não sejamos inocentes. O dinheiro e o poder é quem dita a "verdade".