Parece um plano pré-concebido (design inteligente?). Eles vão buscando espaço nas instituições de ensino superior em nome da pluralidade. Foi assim em 2007 na UFSCar e na Unicamp e no início de 2008 no lamentável simpósio "Criacionismo e Mídia" na UNASP quando a ministra Marina Silva declarou em vídeo sua convicção em relação ao criacionismo. Agora eles voltam, dessa vez na Universidade Prebiteriana Mackenzie em São Paulo. Está programado para 8 a 10 de abril próximos o I Simpósio Internacional Darwinismo Hoje. Adoro a profusão de eventos "internacionais" no Brasil nos quais um participante é uruguaio, paraguaio ou americano. Isso não faz do simpósio um evento de relevância internacional.
O título poderia sugerir que ocorrerá um debate sobre os caminhos da Origem das Espécies ou da Teoria da Evolução. Nada disso. Trata-se de mais uma tentativa de dar ao criacionismo e ao design inteligente (que seguem dogmas a priori e não o método científico e portanto não são ciências) o status científico e colocá-los no mesmo patamar que a Teoria da Evolução.
Cada vez que isso acontece a ciência sai perdendo. Não pode haver debate entre cientistas e criacionistas ou adeptos do design inteligente. Não há o que debater. O criacionismo em sua forma mais radical consiste em atribuir a um Deus a criação do universo e de tudo o que há, incluindo a vida na terra, de acordo com o que é contado nas escrituras judaico-cristãs. O design inteligente consiste em aceitar alguns aspectos da evolução mas duvidar por exemplo do mecanismo de seleção natural, atribuindo a complexidade da vida humana a um plano pré-traçado por uma entidade superior (Deus?) , um projeto inteligente.
Criacionismo e design inteligente são a negação de uma das maiores conquistas da civilização: a ciência, essa metodologia que nos permite entender leis e padrões na natureza. A partir da observação da natureza propomos hipóteses que podem ser testadas e eventualmente validadas. As hipóteses que são validadas e coerentes com outras observações transformam-se em teorias, que ainda assim são postas a prova cada vez que surgem novas evidências.
Ao contrário, tanto o criacionismo quanto o design inteligente já têm as respostas antes mesmo da observação. Não imposta se todas as evidências indiquem que a Bíblia se presta mais a metáforas do que a uma interpretação literal.
É curioso que o palestrante que apresentará o criacionismo tem formação em... engenharia mecânica e elétrica. E é "Catedrático de (sic) Mecânica dos Fluidos na EESC-USP". Eu achava que as cátedras estavam extintas há mais de 40 anos...
Sempre pode piorar. No blog O Tempora, O Mores há uma entrevista com o Prof. Augustus Nicodemus Lopes, o idealizador do simpósio. A entrevista está enfeitada por pérolas como "a universidade pode apresentar alternativas ao modelo evolucionista, que por sinal, já anda bem desgastado", ou criticando a Teoria da Evolução, "A dificuldade maior é quanto à macro-evolução, que postula o surgimento de espécies novas a partir de outras, como o surgimento do homem a partir de espécies inferiores". Ou ainda "o Darwinismo com sua teoria da evolução das espécies não consegue explicar de maneira satisfatória determinados mecanismos e processos naturais descobertos pela bioquímica e outras ciências. Tais mecanismos, como o motorzinho das células, são por demais completos e complexos, sendo praticamente impossível considerá-los como fruto de um processo evolutivo movido ao acaso." Essa interpretação do prof. Lopes do processo de seleção natural está errada. A seleção natural é justamente o contrário do acaso. É a sobrevivência do mais apto. O "motorzinho das células" só chegou a seu grau de complexidade porque evoluiu a partir de sistemas mais simples, e as variantes menos adaptadas a seu meio não sobreviveram. Quem pensa que do nada nasceu a complexidade da vida não entendeu a Teoria da Evolução. E não é porque não entendemos uma teoria que devemos negá-la.
Quem realmente se interessa por discutir Darwinismo Hoje certamente não participará do simpósio. Mas quem se preocupa com Cultura Científica no Brasil precisa ficar atento a mais essa tentativa de transformar crença em ciência.
O título poderia sugerir que ocorrerá um debate sobre os caminhos da Origem das Espécies ou da Teoria da Evolução. Nada disso. Trata-se de mais uma tentativa de dar ao criacionismo e ao design inteligente (que seguem dogmas a priori e não o método científico e portanto não são ciências) o status científico e colocá-los no mesmo patamar que a Teoria da Evolução.
Cada vez que isso acontece a ciência sai perdendo. Não pode haver debate entre cientistas e criacionistas ou adeptos do design inteligente. Não há o que debater. O criacionismo em sua forma mais radical consiste em atribuir a um Deus a criação do universo e de tudo o que há, incluindo a vida na terra, de acordo com o que é contado nas escrituras judaico-cristãs. O design inteligente consiste em aceitar alguns aspectos da evolução mas duvidar por exemplo do mecanismo de seleção natural, atribuindo a complexidade da vida humana a um plano pré-traçado por uma entidade superior (Deus?) , um projeto inteligente.
Criacionismo e design inteligente são a negação de uma das maiores conquistas da civilização: a ciência, essa metodologia que nos permite entender leis e padrões na natureza. A partir da observação da natureza propomos hipóteses que podem ser testadas e eventualmente validadas. As hipóteses que são validadas e coerentes com outras observações transformam-se em teorias, que ainda assim são postas a prova cada vez que surgem novas evidências.
Ao contrário, tanto o criacionismo quanto o design inteligente já têm as respostas antes mesmo da observação. Não imposta se todas as evidências indiquem que a Bíblia se presta mais a metáforas do que a uma interpretação literal.
É curioso que o palestrante que apresentará o criacionismo tem formação em... engenharia mecânica e elétrica. E é "Catedrático de (sic) Mecânica dos Fluidos na EESC-USP". Eu achava que as cátedras estavam extintas há mais de 40 anos...
Sempre pode piorar. No blog O Tempora, O Mores há uma entrevista com o Prof. Augustus Nicodemus Lopes, o idealizador do simpósio. A entrevista está enfeitada por pérolas como "a universidade pode apresentar alternativas ao modelo evolucionista, que por sinal, já anda bem desgastado", ou criticando a Teoria da Evolução, "A dificuldade maior é quanto à macro-evolução, que postula o surgimento de espécies novas a partir de outras, como o surgimento do homem a partir de espécies inferiores". Ou ainda "o Darwinismo com sua teoria da evolução das espécies não consegue explicar de maneira satisfatória determinados mecanismos e processos naturais descobertos pela bioquímica e outras ciências. Tais mecanismos, como o motorzinho das células, são por demais completos e complexos, sendo praticamente impossível considerá-los como fruto de um processo evolutivo movido ao acaso." Essa interpretação do prof. Lopes do processo de seleção natural está errada. A seleção natural é justamente o contrário do acaso. É a sobrevivência do mais apto. O "motorzinho das células" só chegou a seu grau de complexidade porque evoluiu a partir de sistemas mais simples, e as variantes menos adaptadas a seu meio não sobreviveram. Quem pensa que do nada nasceu a complexidade da vida não entendeu a Teoria da Evolução. E não é porque não entendemos uma teoria que devemos negá-la.
Quem realmente se interessa por discutir Darwinismo Hoje certamente não participará do simpósio. Mas quem se preocupa com Cultura Científica no Brasil precisa ficar atento a mais essa tentativa de transformar crença em ciência.
Comentários
http://www.astronomy.com/asy/default.aspx?c=a&id=6760
Paul Nelson ja foi desmascarado repetidamente nos EUA for suas ideias malucas, sem embasamento algum, e agora tenta amealhar simpatizantes por aqui.
Alias, esta questao ja esta mais que batida e esse debate nao avanca o nosso conhecimento. Evolucao e fato, e a teoria que a explica e ciencia. Criacionismo nao e. Nao existe nada solido por tras, apenas uma crenca no sobrenatural.
Ate seria um debate valido se o criacionismo tivesse alguma evidencia ou fato relevante a seu favor...
http://scienceblogs.com/pharyngula/2008/04/ontogenetic_depth.php#more
E o porque nunca houve debate com ele:
http://scienceblogs.com/pharyngula/2008/04/have_a_querulous_paul_nelson_d.php
Tudo isso é em prol do proselitismo cristão.
Não faz sentido. é o mesmo que abandonarmos as teorias de probabilidade e estatística como métodos de previsão e adotarmos como visão alternativa a leitura de búzios, tarô, quiromancia e outros métodos de adivinhação.
Isso é um desserviço à ciência, ao conhecimento e um desrespeito aos alunos que procuram uma educação com qualidade, além de ser um desserviço à religião cristã que alguns fundamentalistas procuram dar a ela o caráter de verdade incontestável acima de tudo o que somente a faz cair no ridículo.
o criacionismo bíblico não é visão alternativa a nada que seja científico, exceto aos outros mitos da criação que circulam por ai.
Sua argumentação é especializada a combater a teria da evolução, do big bang e origens da vida, sem trazer nada de concreto que a respalde.
Quanto ao DI é a roupinha nova para o argumento de Paley. É mera interpretação subjetiva da presença de um criador inteligente, que logicamente é o deus bíblico.
Tenha dó.... proselitismo é para se fazer cada qual em seu templo e não nas escolas, onde a diversidade religiosa e de pensamento é enorme.
aqui vai meu blog
http://cienciaxreligiao.blogspot.com/
grato
Elyson
O Mackenzie diz que procura manter o espírito da Academia como o local adequado para o debate, para o contraditório.
Ok, mantendo o espirito do contraditorio, sugiro ao Mackenzie ensinar outras religoes, como Judaismo, Catolicismo, Budismo, Xintoismo, etc... nas aulas reservadas a religiao.
Olho por olhoprocura manter o espírito da Academia como o local adequado para o debate, para o contraditório.
Li sobre o afamado motorzinho das células. Não sei se você já viu, mas já propuseram etapas intermediárias de evolução para o mecanismo =D
http://en.wikipedia.org/wiki/Flagellum#.22Irreducible_complexity.22
Abraços,
parabéns pelo excelente blog,
Rodrigo