
Duas estratégias são muito usadas por pseudocientistas e anticientistas para confundir o público leigo: uma é apresentar supostas controvérsias onde há consenso. Outra é apresentar pesquisadores irrelevantes ou pouco prestigiados pelos seus colegas como grandes especialistas numa área. Nos dois casos eles se aproveitam do desconhecimento do público sobre como funcionam a pesquisa e as publicações científicas.

Obviamente a indústria dos combustíveis fósseis não gosta nada dessas recomendações e vem investindo milhões para desqualificar o trabalho dos cientistas sérios.
Recentemente chegou a minha atenção uma carta enviada à ONU por um grupo holandês chamado CLIntel, ou Climate Intelligence. A carta começa afirmando que não há uma emergência climática e é assinada por nada menos que "500 proeminentes cientistas". Caso esses signatários representem um grupo de cientistas reconhecidos por seus pares sem dúvida a carta deveria ser levada em consideração pela ONU.
Um grupo de cientistas sérios preparou uma resposta à carta. Segundo eles a carta contém várias estratégias há muito adotadas pela pseudociência: mentiras, cherry picking, descontextualização de informações. afirmações imprecisas e não respaldadas por referências sólidas. Um dos críticos coloca em dúvida a competência científica dos 500 signatários.
Como sete signatários são brasileiros, podemos utilizar a base Lattes para verificar se eles realmente são "proeminentes cientistas" como afirma o CLIntel.
Seguem os nomes dos signatários brasileiros com links para seus currículos Lattes.
- Luiz Carlos Baldicero Molion tem doutorado em meteorologia e é professor da UFAL. O documento afirma que ele é professor emérito, a Wikipedia diz que ele é professor associado. O Lattes não tem informação e na página da UFAL não há menção a ele ser emérito. Segundo o Web of Knowledge, o mais prestigioso banco de dados acadêmicos do mundo, o Prof. Molion tem um índice h=10. O índice h é um estimador da relevância acadêmica de um pesquisador. O índice h é definido para um pesquisador que tem h artigos publicados com mais de h citações. No caso do Prof. Molion, ele tem 10 artigos internacionais com 10 citações cada um. O valor de h que indica relevância depende da idade do pesquisador e da área. No caso do Prof. Molion h=10 é um valor relativamente mediano, não o qualificando como um cientista muito proeminente.
- Ricardo Augusto Felicio tem doutorado em geografia e é professor da USP. Seu Lattes revela que da sua lista de 11 artigos nenhum é em revista internacional. Alguns nem se qualificam como artigos. Dessa forma não é possível definir seu índice h. O professor Felício não pode ser considerado um proeminente cientista.
- Geraldo Luis Saraiva Lino não tem currículo Lattes. Um proeminente cientista brasileiro teria.
- Thiago Maia não tem currículo Lattes. Um proeminente cientista brasileiro teria.
- Igor Vaz Maquieira tem graduação em ciências biológicas. Aparentemente não é professor ou pesquisador em nenhuma universidade. O senhor Maquieira não tem nenhuma publicação científica nacional ou internacional. O senhor Maquieira não pode ser considerado um cientista, muito menos proeminente.
- Mario de Carvalho Fontes Neto tem graduação em Engenharia Agronômica. O senhor Fontes Neto não tem nenhuma publicação científica nacional ou internacional. O senhor Fontes Neto não pode ser considerado um cientista, muito menos proeminente.
- Daniela de Souza Onça é doutora em geografia e professora da UDESC. Dos seus 11 artigos 9 são num certo Fórum Ambiental da Alta Paulista que não é exatamente uma revista científica. Como ela não tem nenhum artigo internacional não é possível definir um índice h. A professora Onça não pode ser considerada uma proeminente cientista.
Agradeço ao colega e amigo Carlos Lenz Cesar por ter me chamado a atenção para a carta do CLIntel
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Comentários
A Plataforma Lattes é bem boa para desmentir carteiradas furadas como essa dos "cientistas proeminentes". Um ex-reitor da UFRJ, que declarou-se "importante cientista" ao responder a críticas, foi desmentido de forma semelhante.
Cientistas têm sua vida profissional exposta (o que é bom). Enquanto isso, nossos políticos seguem usufruindo de um sistema eleitoral análogo à escravidão, que nos suga bilhões enquanto esconde quase toda informação: Não nos dá sua ficha corrida, histórico laboral e escolar, psicotécnico, registro simples e fácil de entender de todos os votos dados como representante... mas em compensação temos bastante videozinho marketeiro e musiquinha engana-coió. Mas os problemas do Brasil são causados pela universidade...
Obrigado pelo comentário. Meu Currículo Lattes é público, como todos os demais. Você pode acessá-lo e decidir se algum dos meus artigos tem alguma relevância. Ao contrário dos sete citados eu nunca me apresentei como proeminente cientista. Para sua informação, aquecimento global não é pseudociência. Esse blog é moderado desde seu início. Há motivos para isso que não cabe a você julgar. Por favor complemente as informações que você tem sobre cada um dos citados. Eu não ocultei nada.
Um abraço cordial.
Ninguém tá interessado em opinião quando o assunto é mudança climática, a gente trabalha com evidência.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Greta_Thunberg
Esse vídeo simples do canal nerdologia tb é muito esclarecedor: https://youtu.be/8sovsUzYZFM
Obrigado por seu comentário.
Note que o ponto importante aqui não é entrar numa guerra de currículos, mas de mostrar que tem gente passando pelo que não é.
Greta Thunberg nunca se apresentou como proeminente cientista. Ela é o que ela é.
O problema é que há pessoas que buscam autoridade ao se apresentar como proeminentes cientistas quando não são cientistas, não são proeminentes ou nenhum dos dois.
Um abraço pra você!