Os Falsos Proeminentes Cientistas do Clima

César Lattes foi um dos mais célebres físicos experimentais brasileiros. Seu nome foi imortalizado na Base de currículos Lattes, mantida pelo CNPq consiste num patrimônio acadêmico brasileiro único no mundo. Desde 1999 virtualmente todos os acadêmicos e pesquisadores brasileiros, inclusive ex-ministros e ex-presidentes mantém atualizado seu perfil no Lattes. Ali estão todas as publicações científicas, participação em eventos, orientações, trajetória acadêmica, proficiência linguística, enfim, tudo o que caracteriza a vida intelectual e acadêmica. Como praticamente todos os cientistas brasileiros estão cadastrados na plataforma Lattes, ela contém uma quantidade enorme de informações relevantes sobre os cientistas e a comunidade científica brasileiros, infelizmente ainda pouco exploradas.
Duas estratégias são muito usadas por pseudocientistas e anticientistas para confundir o público leigo: uma é apresentar supostas controvérsias onde há consenso. Outra é apresentar pesquisadores irrelevantes ou pouco prestigiados pelos seus colegas como grandes especialistas numa área. Nos dois casos eles se aproveitam do desconhecimento do público sobre como funcionam a pesquisa e as publicações científicas.
Mudança climática global causada pela intervenção humana é um assunto carregado de profundas implicações políticas. Não há dúvida de que a concentração de CO2 e de outros gases causadores de aquecimento global vêm aumentando a um ritmo nunca visto na história do planeta. O consenso na comunidade científica é que o aumento da concentração desses gases está causando a um aumento da temperatura média global com consequências que podem ser catastróficas para o futuro da humanidade mais cedo ou mais tarde. Por isso, por precaução, cientistas prestigiados se reuniram no IPCC, um painel global de especialistas em clima e fizeram uma recomendação de redução no ritmo de liberação de gases do efeito estufa. As atividades desse painel foram reconhecidas com o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Mesmo que os modelos adotados pelos especialistas estejam errados (o que é pouco provável), é prudente reduzir a concentração de CO2 e outros gases causadores de efeito estufa gases na atmosfera.
Obviamente a indústria dos combustíveis fósseis não gosta nada dessas recomendações e vem investindo milhões para desqualificar o trabalho dos cientistas sérios.
Recentemente chegou a minha atenção uma carta enviada à ONU por um grupo holandês chamado CLIntel, ou Climate Intelligence. A carta começa afirmando que não há uma emergência climática e é assinada por nada menos que "500 proeminentes cientistas". Caso esses signatários representem um grupo de cientistas reconhecidos por seus pares sem dúvida a carta deveria ser levada em consideração pela ONU.
Um grupo de cientistas sérios preparou uma resposta à carta. Segundo eles a carta contém várias estratégias há muito adotadas pela pseudociência: mentiras, cherry picking, descontextualização de informações. afirmações imprecisas e não respaldadas por referências sólidas. Um dos críticos coloca em dúvida a competência científica dos 500 signatários.
Como sete signatários são brasileiros, podemos utilizar a base Lattes para verificar se eles realmente são "proeminentes cientistas" como afirma o CLIntel.
Seguem os nomes dos signatários brasileiros com links para seus currículos Lattes.
  1. Luiz Carlos Baldicero Molion tem doutorado em meteorologia e é professor da UFAL. O documento afirma que ele é professor emérito, a Wikipedia diz que ele é professor associado. O Lattes não tem informação e na página da UFAL não há menção a ele ser emérito. Segundo o Web of Knowledge, o mais prestigioso banco de dados acadêmicos do mundo, o Prof. Molion tem um índice h=10. O índice h é um estimador da relevância acadêmica de um pesquisador. O índice h é definido para um pesquisador que tem h artigos publicados com mais de h citações. No caso do Prof. Molion, ele tem 10 artigos internacionais com 10 citações cada um. O valor de h que indica relevância depende da idade do pesquisador e da área. No caso do Prof. Molion h=10 é um valor relativamente mediano, não o qualificando como um cientista muito proeminente.   
  2. Ricardo Augusto Felicio tem doutorado em geografia e é professor da USP. Seu Lattes revela que da sua lista de 11 artigos nenhum é em revista internacional. Alguns nem se qualificam como artigos. Dessa forma não é possível definir seu índice h. O professor Felício não pode ser considerado um proeminente cientista.
  3. Geraldo Luis Saraiva Lino não tem currículo Lattes. Um proeminente cientista brasileiro teria.
  4. Thiago Maia não tem currículo Lattes. Um proeminente cientista brasileiro teria.
  5. Igor Vaz Maquieira tem graduação em ciências biológicas. Aparentemente não é professor ou pesquisador em nenhuma universidade. O senhor Maquieira não tem nenhuma publicação científica nacional ou internacional. O senhor Maquieira não pode ser considerado um cientista, muito menos proeminente.
  6. Mario de Carvalho Fontes Neto tem graduação em Engenharia Agronômica. O senhor Fontes Neto não tem nenhuma publicação científica nacional ou internacional. O senhor Fontes Neto não pode ser considerado um cientista, muito menos proeminente.
  7. Daniela de Souza Onça é doutora em geografia e professora da UDESC. Dos seus 11 artigos 9 são num certo Fórum Ambiental da Alta Paulista que não é exatamente uma revista científica. Como ela não tem nenhum artigo internacional não é possível definir um índice h. A professora Onça não pode ser considerada uma proeminente cientista.
Graças ao Lattes podemos mostrar que nenhum dos sete signatários brasileiros da carta da CLIntel é um proeminente cientista. Quatro deles nem podem ser qualificados como cientistas. Se extrapolamos essa amostra para os demais signatários podemos concluir que pelo menos grande parte dos qwue assinam a carta não são nem cientistas nem proeminentes. A carta é mais uma manobra dos grupos de pressão anticiência para desacreditar o trabalho de gente séria.

Agradeço ao colega e amigo Carlos Lenz Cesar por ter me chamado a atenção para a carta do CLIntel
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Comentários

Iza disse…
Nossa! Não são proeminentes cientistas e você está preocupado. Imagina se fossem. Interessante que eu já ouvi falar de todos eles, mas de você que deve se considerar um proeminente cientista, eu só tive conhecimento agora. Para você, coleção de artigos representa proeminência científica, então você é fichinha perto de Edward Lorenz que tem dezenas de artigos, assim como vários outros cientistas com centenas de artigos e são céticos. Ah, mas você só tem coragem de criticar cientistas céticos brasileiros que têm poucos artigos, que não recebem financiamento público, nem recebem dinheiro da indústria do petróleo, mas que ousaram desafiar o status quo da pseudociência do aquecimento global e da mudança climática causada pelos seres humanos, da qual até hoje carece de evidência científica. Mas é claro, você não parece ter coragem de afrontar nenhum dos cientistas internacionais que seguem a mesma linha de pensamento, inclusive, alguns desses, detentores de prêmio Nobel. Aliás, qual dos seus trabalhos científicos trouxe algum destaque internacional, de alta relevância para a ciência brasileira que fez realmente o Brasil se destacar no cenário internacional? Acredito que se o seu trabalho fosse relevante para a ciência, você não estaria aqui se prestando a esse papel de tentar (sem sucesso) descredibilizar cientistas que falam aquilo que você não tem capacidade de entender. A covardia é tamanha que ativa "moderação de comentários". Tem medo do quê? Que comentem a verdade? Ou que complementem as informações que você ocultou sobre cada cientista citado?
Vinícius Kern disse…
Ótimo levantamento!

A Plataforma Lattes é bem boa para desmentir carteiradas furadas como essa dos "cientistas proeminentes". Um ex-reitor da UFRJ, que declarou-se "importante cientista" ao responder a críticas, foi desmentido de forma semelhante.

Cientistas têm sua vida profissional exposta (o que é bom). Enquanto isso, nossos políticos seguem usufruindo de um sistema eleitoral análogo à escravidão, que nos suga bilhões enquanto esconde quase toda informação: Não nos dá sua ficha corrida, histórico laboral e escolar, psicotécnico, registro simples e fácil de entender de todos os votos dados como representante... mas em compensação temos bastante videozinho marketeiro e musiquinha engana-coió. Mas os problemas do Brasil são causados pela universidade...
Cara Iza,
Obrigado pelo comentário. Meu Currículo Lattes é público, como todos os demais. Você pode acessá-lo e decidir se algum dos meus artigos tem alguma relevância. Ao contrário dos sete citados eu nunca me apresentei como proeminente cientista. Para sua informação, aquecimento global não é pseudociência. Esse blog é moderado desde seu início. Há motivos para isso que não cabe a você julgar. Por favor complemente as informações que você tem sobre cada um dos citados. Eu não ocultei nada.
Um abraço cordial.
"Imagina se fossem. Interessante que eu já ouvi falar de todos eles, mas de você que deve se considerar um proeminente cientista, eu só tive conhecimento agora." Argumento ad hominem típico de quem tem formação científica via "Mistérios do Mundo" ou outros canais fala-bosta do Youtube. Vai estudar e publicar, minha filha.
Ninguém tá interessado em opinião quando o assunto é mudança climática, a gente trabalha com evidência.
Anônimo disse…
Qual o currículo da Greta Thunberg?!?!

https://pt.wikipedia.org/wiki/Greta_Thunberg
Guilherme disse…
Ouvir falar é critério de credibilidade? Esse tipo de ataque a ciência fianciada pelo lobby e que angaria militantes como vc é bem mostrada no documentário Merchants Of Doubt. Recomendo que assista.
Esse vídeo simples do canal nerdologia tb é muito esclarecedor: https://youtu.be/8sovsUzYZFM
Caro Anônimo,
Obrigado por seu comentário.
Note que o ponto importante aqui não é entrar numa guerra de currículos, mas de mostrar que tem gente passando pelo que não é.
Greta Thunberg nunca se apresentou como proeminente cientista. Ela é o que ela é.
O problema é que há pessoas que buscam autoridade ao se apresentar como proeminentes cientistas quando não são cientistas, não são proeminentes ou nenhum dos dois.
Um abraço pra você!